9.10.10

Um comentário, um aprendizado, um poema e uma dedicatória

Aprendemos coisas que não nos foram ensinadas, mesmo com as pessoas que tantas vezes nos ensinam coisas. Aconteceu isso quando eu e o (Rafael) Gryner fizemos um pequeno show de apresentação das nossas primeiras canções compostas em parceria. Isso ocorreu já há bastante tempo, em sua casa recheada de grandes amigos. Além da noite como um todo, registrada por fotos, certas canções que mostramos ali ficaram marcadas até hoje nas cabeças de algumas pessoas, mesmo sem o auxílio das gravações, já que toda a estrutura de equipamentos que montamos para gravar a ocasião falhou. Mas eu não estou dizendo aqui que os amigos decoraram as letras, ou que os refrãos (acreditem, “refrões” está errado) costumam lhes assaltar a mente sem aviso. Essas pessoas seguem pedindo ou perguntando sobre as músicas não pelo cantarolar das melodias, mas sim a partir do que lembram das descrições de seus temas. E esses lhes foram marcantes porque decidimos que faríamos comentários sobre o que nos motivou a compor cada canção antes de executá-las, reproduzindo a conhecida e velha tradição do nosso cancioneiro popular. É claro que a inesperada grande habilidade do Gryner para esse tipo de coisa, descoberta ali, contribuiu e muito. Mas o fato é que falar um pouco sobre as músicas - que a maioria estava prestes a ouvir pela primeira vez - apurou a qualidade da audição, diminuiu o ruído da saudável ambigüidade da arte e ofereceu entendimento ao espectador. Meu amigo me ensinou isso nesse dia. E ultimamente eu tenho tentado retransmiti-lo aos nossos outros companheiros do mundo musical.

Trago esse assunto à baila, porém, para justificar a apresentação do poema que postarei logo a seguir. Alguns poderão interpretar isso como um “explicar a piada”, mas não é, também não gosto disso, nem a literatura (ou a canção) o requer. Só o que faço é trazer um pouco de contexto – que mal pode haver? – esse atributo tão importante a toda comunicação.

Ao ler os originais do meu “Todas as vozes cantam” (7Letras, 2008), o Gryner me surpreendeu com o justo comentário de que o livro poderia se chamar “Odes ao vento”. Reli a obra sob esse olhar e reconheci que é grande mesmo a quantidade de vezes que o vento aparece como metáfora nesse meu livro de estréia. Há poucos dias, compondo com ele e o Diogo (Cadaval), prestes a falar novamente sobre o mar (uma obsessão flagrada em nossas canções), lembramos o episódio. O que me trouxe à memória que alguns meses atrás eu havia pensado no assunto (do vento) e escrito um poema. Encontrei-o no caderno, relemos juntos, o redescobrimos, e apresento-o aqui com a devida dedicatória.



Ode ao vento

a Rafael Gryner


há muito não falo

do vento


ou não me lembro

tanto


enquanto isso

sigo aprendendo


a enxergar

o nada em movimento


mas não comento

é só o ar




Um comentário:

Lysia disse...

Linda dedicatória.
Gostei de ler.
Beijo.